Wilson da Costa Bueno, doutor em jornalismo, fala sobre a principal característica do jornalista que o STF deixou de lado: a formação.
1. Quais as qualidades e os defeitos que as faculdades de Jornalismo do Brasil possuem?
Como há um número expressivo de escolas de Jornalismo, é preciso separar o joio do trigo. Embora existam problemas graves na maioria delas (grade curricular desatualizada e nem sempre comprometida com as demandas do mercado e da sociedade, pouco estímulo ao espírito crítico, má qualificação do corpo docente, bibliotecas com títulos insuficientes de livros e poucos periódicos, além de laboratórios precários), há também bons exemplos, particularmente naquelas que também mantêm programas de pós-graduação competentes. A virtude maior das faculdades, quando boas, é contribuir para uma formação humanística e crítica do mercado profissional , além de valorizar a ética e o profissionalismo.
2. O que deveria ser feito para melhorar as faculdades de Jornalismo do país?
Eliminar as que não cumprem os objetivos educacionais e que são apenas meras fábricas de diplomas (o que agora parece não ter mais valor), exigir capacitação docente (titulação), estimular a pesquisa e o regime de tempo integral dos professores, adequar laboratórios e projetos laboratoriais, entre outros.
3. Em relação à obrigatoriedade do diploma de Jornalismo, que não mais existe, você acredita que existam jornalistas natos, ou todos devem passar por uma lapidação na faculdade de comunicação social?
Não existe jornalista nato, porque se trata de uma atividade complexa que exige conhecimentos mais do que óbvios sobre o trabalho e o sistema de produção jornalísticos. Posso admitir (a realidade comprova isso) que há bons jornalistas no mercado que não têm formação específica em jornalismo, mas estes são exceção. A melhor alternativa para uma atuação competente no mercado é a formação em um curso de Jornalismo de qualidade.
4. Quanto aos cursos de extensão, você acredita que haja muitos cursos na área jornalística, ou que há uma certa carência?
Há uma carência imensa em relação a cursos de extensão, sobretudo em áreas especializadas (Jornalismo cultural, econômico, esportivo, científico, ambiental, em saúde, ...). Faltam também professores para ministrar esses cursos e por isso deveriam ser incentivadas a vinda de professores visitantes e cursos a distância já existentes no mercado.
5. Você tem um site que disponibiliza cursos extensivos para estudantes de Comunicação Social. Fale um pouco sobre eles.
A Comtexto tem atualmente três cursos para a área de Jornalismo (científico, ambiental e saúde), quatro na área de Comunicação Empresarial (assessoria de imprensa, comunicação interna, comunicação e responsabilidade social e comunicação empresarial) e vai lançar mais um em julho deste ano sobre auditoria de imagem. Estes são cursos livres, de atualização profissional, voltado para nichos específicos do mercado de Comunicação/Jornalismo. Eles têm sido bem procurados e tem como objetivo aumentar o volume de informações e conhecimentos em determinadas especialidades. O portal dos cursos é: www.comunicacaoadistancia.com.br.
6. E, para terminar, qual o perfil que, para você, um verdadeiro jornalista deve ter? E quais os defeitos inadmissíveis de um profissional dessa área?
Compromisso com a ética, profissionalismo acima de tudo, espírito crítico, atenção sempre redobrada em relação aos interesses que rondam a produção e divulgação das notícias. Porém, é fundamental uma boa formação: conhecimentos mais do que básicos sobre as principais pautas e sobre o sistema de produção em jornalismo. Não é possível ser amador nessa área, sob pena de comprometer a qualidade da cobertura jornalística e ficar refém de fontes comprometidas com interesses políticos e comerciais. Quanto aos defeitos que não se pode aceitar, tem a preguiça, falta de disposição para investigar, arrogância e postura não ética.
Por Carolina Flor